Rogerio Rodrigues dez
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Jovem com transtornos mentais invade jaula de leões e é morto por leoa em zoológico da Paraíba

Jovem com transtornos mentais invade jaula de leões e é morto por leoa em zoológico da Paraíba

Na manhã de domingo, 30 de novembro de 2025, Gerson de Melo Machado, de 19 anos e com diagnóstico de transtornos mentais, escalou uma parede de mais de seis metros, contornou grades de proteção e invadiu o recinto de leões no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, também conhecido como Parque da Bica, em João Pessoa, Paraíba. O resultado foi fatal: uma leoa de 19 anos, que vivia no local desde o nascimento, o atacou e o matou. Vídeos gravados por visitantes e divulgados pelo VoxPB mostram o momento exato em que o jovem desce por uma árvore interna do recinto — e a leoa, que estava deitada perto do vidro de observação, se levanta, avança e o puxa para o chão. Ele tentou correr, caiu, e nunca mais foi visto em pé.

Como foi possível a invasão?

Apesar de o parque ter barreiras técnicas que atendem às normas internacionais — incluindo uma cerca de oito metros de altura e uma "borda negativa" de 1,5 metro, segundo a CNN Brasil —, Gerson conseguiu usar uma árvore interna como ponto de apoio. Testemunhas relataram que ele subiu por uma estrutura lateral, pulou grades e aproveitou a vegetação para se aproximar do animal. A prefeitura afirmou que as equipes de segurança tentaram intervir, mas o acesso foi rápido e inesperado. "O homem insistiu na invasão, culminando nesse episódio lamentável", disse a nota oficial divulgada no Instagram do parque. O que ninguém esperava era que alguém conseguisse superar tantas camadas de proteção — e menos ainda que o fizesse com tanta clareza de propósito.

A leoa: não era agressiva, mas reagiu como um animal selvagem

A leoa, cujo nome não foi divulgado, nasceu no próprio zoológico e tinha 19 anos — idade avançada para sua espécie em cativeiro. Segundo o veterinário Thiago Nery, ela sempre foi calma, respondia a comandos de treinamento e não tinha histórico de violência. "Ela estava deitada, relaxada, como sempre. Não havia sinais de estresse antes do incidente", contou. Mas quando o jovem entrou no seu território, o instinto prevaleceu. "Animais não entendem cercas. Eles entendem invasão. E quando sentem ameaça, reagem. Ela não o atacou por maldade. Ela o atacou porque ele estava dentro da sua casa.", explicou Nery.

Após o ataque, a leoa ficou em estado de choque. "Ela não comeu, não se moveu por horas. Apenas olhava para o mesmo ponto, como se não acreditasse no que aconteceu", descreveu o biólogo responsável pelo setor de felinos. Ela foi monitorada por 48 horas sem intervenção. Nenhum tranquilizante foi usado. Nenhum tiro. Apenas observação. E, contra o que muitos esperavam, a prefeitura garantiu que a leoa não será sacrificada. "Ela é parte da história deste parque. Não é culpada", afirmou o secretário de Meio Ambiente, em coletiva.

Parque fechado, investigação em andamento

O Parque da Bica foi imediatamente interditado após o incidente. A Polícia Científica da Paraíba (IPC) e a Semam (Secretaria de Meio Ambiente) estão analisando câmeras de segurança, estruturas físicas e até a possibilidade de falhas de manutenção. O que chama atenção é que, embora a cerca fosse técnica e legalmente adequada, ela não previa que alguém pudesse usar uma árvore como ponte. "É um erro de projeto, não de manutenção", avaliou um engenheiro de segurança que analisou os vídeos.

O caso reacendeu o debate sobre a segurança em zoológicos brasileiros. Muitos parques ainda operam com infraestrutura datada, mesmo que cumpram normas técnicas. "A norma diz que a cerca tem que ter X metros. Mas não diz que você não pode ter árvores dentro do recinto. E isso é um problema", disse a bióloga Luciana Carvalho, da Universidade Federal da Paraíba. "A gente protege o público, mas esquece que o ambiente do animal precisa ser seguro também. Se ele tem acesso a algo que pode ser usado como escada, o risco existe. E não é só aqui. É em muitos lugares."

O que acontece agora?

A família de Gerson de Melo Machado foi notificada e recebeu apoio psicológico da prefeitura. Não há indícios de que ele tenha tido intenção de se matar — mas também não há sinais de que tenha sido vítima de algum tipo de manipulação externa. A hipótese mais forte é a de um episódio psicótico desencadeado por sua condição de saúde mental. O corpo foi liberado para o velório e sepultamento.

Enquanto isso, a leoa permanece sob cuidados intensivos. A equipe do parque está ajustando a alimentação, o ambiente e os estímulos sensoriais para reduzir seu estresse. Ela será monitorada por pelo menos seis semanas. Se houver melhora, voltará ao recinto — mas com modificações: a árvore será removida, e a cerca será reforçada com uma rede eletrificada invisível ao público.

Um zoológico não é um parque de diversões

O incidente não é apenas um acidente trágico. É um alerta. Zoológicos são instituições de conservação, não entretenimento. E quando o público esquece isso — quando acha que "é só uma jaula" —, o risco aumenta. A leoa não é um monstro. Gerson não era um louco. Ambos foram vítimas de um sistema que, apesar de todas as normas, ainda não entendeu que animais selvagens não se adaptam a comportamentos humanos. Eles não entendem selfies. Não entendem desafios. Não entendem que alguém pode querer entrar na sua casa só para ver de perto.

Frequently Asked Questions

Por que a leoa não foi sacrificada, se matou alguém?

A prefeitura decidiu não sacrificar a leoa porque ela não agiu por agressividade prévia, mas por instinto de defesa territorial. Animais em cativeiro raramente atacam sem provocação — e nesse caso, ela foi invadida. Além disso, a leoa tem 19 anos, vive no parque desde o nascimento e é parte do programa de conservação da espécie. Seu comportamento pós-ataque demonstrou estresse, não violência. O conselho técnico do parque concluiu que o risco de nova ocorrência é baixo se o ambiente for corrigido.

Como alguém conseguiu escalar uma cerca de 8 metros?

A cerca tinha 8 metros, mas havia uma árvore dentro do recinto, que permitia acesso à parte superior da grade. A estrutura não violava normas técnicas — porque as normas não proíbem árvores em recintos. Mas esse detalhe foi ignorado na avaliação de risco. A árvore, que cresceu naturalmente, se tornou uma ponte. Isso expõe uma falha de projeto: a segurança deve considerar não só a barreira, mas todos os elementos que podem ser usados para contorná-la.

O jovem tinha histórico de comportamento perigoso?

Segundo a TV Cabo Branco, Gerson de Melo Machado tinha diagnóstico de transtornos mentais, mas não havia registro de violência anterior. Ele não era conhecido como pessoa agressiva. Os amigos disseram que ele era quieto, mas às vezes apresentava comportamentos impulsivos. Não há indícios de que planejou o ato. A investigação aponta para um episódio psicótico súbito, possivelmente desencadeado por fatores externos não identificados ainda.

O parque vai reabrir? Quando?

O Parque da Bica permanece fechado desde 30 de novembro de 2025. A prefeitura não deu data exata para reabertura, mas afirmou que a reabertura só ocorrerá após a conclusão das investigações e a implementação de melhorias estruturais, incluindo a remoção da árvore, reforço da cerca com rede invisível e instalação de sensores de movimento na área dos felinos. Estimativas internas apontam para um prazo mínimo de 60 dias.

Esse tipo de incidente já aconteceu antes no Brasil?

Sim. Em 2019, um homem invadiu o recinto de tigres no Zoológico de São Paulo e foi atacado, mas sobreviveu. Em 2022, em um parque em Minas Gerais, um visitante entrou em uma área de macacos e foi mordido. Em todos os casos, o problema foi o mesmo: barreiras técnicas adequadas, mas falhas na gestão ambiental — como plantas, estruturas ou espaços que permitem acesso indireto. A diferença aqui é que, pela primeira vez, o caso foi filmado inteiramente e gerou debate nacional sobre o design de recintos.

O que os zoológicos brasileiros estão fazendo para evitar isso?

Após o incidente, a Associação Brasileira de Zoológicos e Aquários (ABZA) convocou uma reunião emergencial com 47 instituições. O plano é revisar todos os recintos de felinos, carnívoros e grandes primatas até março de 2026. Entre as medidas: proibição de árvores dentro de recintos de animais terrestres, instalação de sensores de proximidade e treinamento obrigatório para equipe de segurança. Também será criado um selo de segurança reforçada, que poderá ser exigido por órgãos ambientais.

Rogerio Rodrigues

Rogerio Rodrigues

Sou Otávio Ramalho, jornalista especializado em notícias diárias do Brasil. Me dedico a trazer as últimas atualizações para meu público, sempre buscando a verdade e a precisão dos fatos. Além disso, gosto de analisar o impacto das notícias no dia a dia dos brasileiros e escrever artigos que provoquem reflexão.

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