Riot Games vende Hytale de volta aos criadores originais após encerrar desenvolvimento

Em abril de 2020, a Riot Games anunciou oficialmente a aquisição da Hypixel Studios, estúdio sediado em Derry~Londonderry, na Irlanda do Norte, com o objetivo de levar o jogo Hytale ao próximo nível. Na época, o projeto — uma mistura de sandbox criativo com RPG profundo — já tinha mais de 2,5 milhões de inscrições para o beta e milhões de visualizações no YouTube. Mas o que começou como um sonho compartilhado terminou em um reverso inesperado: em junho de 2025, a Riot parou o desenvolvimento e começou a desmontar a equipe. Em novembro daquele mesmo ano, os criadores originais compraram de volta os direitos do jogo — e prometeram financiá-lo por uma década, sem investidores.

Do sonho ao colapso

A Hypixel Studios foi fundada em 2018 com apoio inicial da Riot Games, que já havia demonstrado interesse em expandir seu portfólio além de League of Legends. O time, composto por mais de 40 desenvolvedores, trabalhava em silêncio, alimentado por um fervor genuíno da comunidade. Aaron 'Noxy' Donaghey, então novo CEO da estúdio, dizia em 2020: “Encontramos na Riot um parceiro que compartilha nossa crença de que jogadores devem ser empoderados”. A promessa era clara: autonomia operacional, mas com recursos da gigante americana.

Mas a realidade do desenvolvimento de jogos é cruel. Apesar dos sinais positivos iniciais — trailers impressionantes, engajamento massivo, fãs criando mods antes mesmo do lançamento — o projeto começou a sofrer com pressões internas. Relatórios posteriores indicam que a Riot, focada em retornos rápidos e metas de monetização, começou a pressionar por mudanças que contradiziam a visão original da Hypixel. A tensão cresceu. O cronograma deslizou. E, em junho de 2025, a empresa anunciou que encerraria as operações da Hypixel Studios.

A reviravolta dos criadores

O que aconteceu depois foi raro na indústria. Em vez de desaparecerem, os fundadores originais — incluindo Simon Collins-Laflamme — reuniram recursos pessoais e compraram de volta os direitos de Hytale por um valor não divulgado. Em novembro de 2025, confirmaram que haviam recontratado mais de 30 dos antigos desenvolvedores. E fizeram uma promessa ousada: financiarão o jogo por 10 anos, sem nenhum publisher, sem investidores externos. “Não vamos correr para o 1.0”, disse um comunicado interno. “Queremos que o jogo evolua com a comunidade.”

A versão inicial, que entrará em acesso antecipado em 2026, terá três modos principais: Exploração, Criativo e Modding — este último disponível desde o primeiro dia. Jogadores poderão rodar servidores próprios, criar conteúdos personalizados e compartilhá-los livremente. O motor usado será o mesmo das primeiras demonstrações, o que acelera o desenvolvimento e permite jogabilidade imediata. Mas há um aviso claro: haverá bugs, equilíbrio ruim, atualizações que quebram saves. É o preço da transparência.

Por que isso importa

O caso da Hypixel Studios é uma lição sobre o poder da autonomia criativa. A Riot Games, apesar de sua reputação em jogos online, não conseguiu manter a alma do projeto. A estúdio, por outro lado, provou que um grupo pequeno, mas dedicado, pode resistir ao modelo corporativo dominante — e vencer.

Isso também coloca Hytale em uma posição única: o primeiro grande jogo de blocos a ser desenvolvido por seus criadores originais, sem pressão de monetização externa. Isso é raro. Muito raro. Enquanto Minecraft pertence à Microsoft e Roblox é controlado por uma empresa pública, Hytale será uma ilha de independência.

O que vem a seguir

O lançamento em Windows está programado para o primeiro semestre de 2026. Versões para Linux e macOS virão depois, e portas para consoles — se vierem — só serão discutidas em 2028 ou depois. A equipe confirmou que Modding será o coração do jogo, e que um time dedicado começará a desenvolver Minigames e Adventure Mode apenas após o acesso antecipado estar estável.

O mais interessante? A Hypixel Studios não está buscando financiamento. Não está vendendo NFTs. Não está fazendo microtransações. E não está prometendo “experiências imersivas”. Eles estão prometendo atualizações constantes, comunicação aberta e um jogo que cresce com quem joga. É um modelo quase utópico — mas, por enquanto, parece real.

Um legado inesperado

A história de Hytale não é apenas sobre um jogo. É sobre uma comunidade que se recusou a deixar morrer um sonho. É sobre desenvolvedores que escolheram o que acreditam, em vez do que o mercado exige. E é sobre como uma gigante como a Riot Games, por mais poderosa que seja, pode falhar ao subestimar o valor da paixão pura.

Agora, os criadores estão de volta. Com os mesmos computadores, os mesmos códigos, e uma nova missão: construir algo que dure — não por lucro, mas por amor.